Em 1978 as principais manchetes foram estas:

Três papas num ano só. E um é polonês!

Cai uma barreira no Oriente Médio

A caminho da Independência

O terror chega ao auge na Itália

O inferno segundo o reverendo Jones

A revolução de Louise Brown

Toneladas de petróleo no mar

Superprodução e supersucesso

Da arte metafísica ao classicismo

Brasil inventa a ‘vitória moral'

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1978

Três papas num ano só. E um é polonês!

Três papas em um ano—este e o recorde de 1978 difícil de superar. O primeiro deles foi Paulo Vl, que morreu em 6 de agosto depois de um pontificado relativamente longo: 15 anos.

Coube a Paulo Vl prosseguir a principal obra deixada por João XXIII: o Concilio Vaticano II. O Concilio terminaria em 1965, depois de sacudir violentamente as estruturas da Igreja católica.

Paulo Vl tinha de administrar esta herança, que era basicamente, a presença maior da Igreja no mundo—o que João XXIII tinha chamado de aggiornamento . Surgiram dai as conferencias episcopais de que a CNBB, no Brasil, e um dos exemplos mais conhecidos. A Igreja passava a falar com voz mais forte sobre questões temporais, desdobrando os ensinamentos das encíclicas sociais de João XXIII, de que a mais famosa era a "Mater et Magistra".

Essa "entrada no mundo" provocou divisões dentro da Igreja—e foi a partir dai que se começou a falar de "igreja progressista" em oposição a correntes que seriam mais conservadoras.

Coube a Paulo Vl administrar esses conflitos—e ha quem diga que, temperamento sensível, ele sofreu muito com isso, porque as vezes as discussões internas alcançavam temperaturas elevadas.

Por essas mesmas razoes, a eleição do Papa seguinte foi acompanhada com enorme interesse: o novo Papa penderia a direita ou a esquerda? Daria mão forte aos "progressistas" ou aos "conservadores"?

O conclave encerrou-se a 26 de agosto, com a eleição de Albino Luciani, patriarca de Veneza, que escolheu o nome de João Paulo I—sinal claro de que ele se considerava um continuador dos papas do Concilio. O que o mundo viu, nos minutos que se seguiram a eleição, foi um sorriso inefável, de uma personalidade que prometia, com a sua doçura, jogar um bálsamo sobre as feridas da Igreja.

Este sinal luminoso, entretanto, durou apenas 33 dias: João Paulo I morria a 28 de setembro de 1978, sendo sepultado na cripta da Basílica de São Pedro.

Um fato tão inesperado produziu, obviamente, mil interpretações. A mais prosaica era a de que, super-sensível, o Papa não teria agüentado o peso que subitamente desabava sobre os seus ombros. A mais arrevesada foi a de que o Papa teria sido vitima de um complô arquitetado pela CIA. Livros chegaram a ser escritos sobre isso; mas as pessoas sensatas nunca levaram esta hipótese a serio.

E, de novo, estava a Igreja sem comando, devolvida as suas perplexidades. Um segundo conclave terminou a 16 de outubro de 1978; e, desta vez, o resultado deixou a todos boquiabertos: pela primeira vez em mais de 400 anos, um não-italiano era escolhido para o trono de São Pedro; e, mais que isso, um Papa da Europa Oriental: Karol Wojtyla, arcebispo de Cracóvia, na Polônia.

O impacto dessa escolha ia fazer história. O catolicismo na Polônia esta misturado a própria identidade nacional, e ajudou a nação polonesa a atravessar séculos de opressão.

Mas, acima de tudo, esta era uma escolha que atravessava a Cortina de Ferro—naquele momento, ainda em plena vigência. O livro de Carl Bernstein e Marco Politi—"Sua Santidade". traduzido no Brasil—traça uma imagem quase cômica da repercussão desse fato nos círculos oficiais de Varsóvia e de Moscou.

O catolicismo polonês jamais se dobrara totalmente a pressão do regime comunista. O que ia acontecer agora, quando a Polônia tinha o seu primeiro Papa?

A resposta veio em pouco tempo, quando João Paulo II realizou, em 1979, a primeira visita a sua terra natal. O primeiro dado político, neste caso, e que Varsóvia, para horror de Moscou, sentiu-se incapaz de dizer não a viagem. O segundo dado, não menos significativo, e que, iniciada a visita, e sem que qualquer incidente desafiasse abertamente a ordem publica, o sistema comunista parecia uma folha na tempestade entre as ondas de entusiasmo que a visita do Papa despertava. Acabada a visita, a Polônia era um outro pais; e ninguém se surpreendeu quando, em 1980, o movimento sindical Solidariedade, liderado por Lech Walesa, confrontou o regime com uma firmeza até então impensável.

Também houve quem considerasse uma seqüência natural desses fatos o atentado contra o Papa em 13 de maio de 1981, em plena Praça de São Pedro. O terrorista turco Ali Agca nunca confessou os verdadeiros motivos do seu crime; mas diversas pistas levavam aos serviços secretos da Bulgária, que poderiam estar agindo em sintonia com a KCB.

O Papa recuperou-se do atentado; e, a partir dali, alguma coisa parecia estar trincada nas antigas fortalezas socialistas. Onze anos depois da eleição de João Paulo II, vinha abaixo o Muro de Berlim; e dois anos depois, a União Soviética encerrava a sua existência—um desfecho com que ninguém poderia sonhar naqueles dias de 1978.

Todo esse processo histórico esta, hoje, muito estudado e analisado. A revista "Time", por exemplo, publicou um relato minucioso sobre como o Papa e o presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos, atuaram em conjunto para ajudar a resistência polonesa nos tempos que se seguiram a lei marcial imposta em 1982.

Seria, talvez, um exagero dizer que João Paulo II é o responsável pela queda das Bastilhas comunistas. Ele mesmo, com humor característico, desmente a hipótese, e diz: "Eu apenas dei uma forte sacudida na arvore, e os frutos podres vieram ao chão".

No interior da Igreja católica, sua atuação não foi menos carismática. Ele recusou-se a fazer qualquer tipo de opção simplista entre "progressistas" e conservadores. Em muitos casos, sua pregação social foi ainda adiante do que tinha sido semeado no Concilio Vaticano II.

Mas o que ele deixou claro, desde a primeira hora, e que não abriria mão do que constitui a identidade fundamental da Igreja (esta pode ter sido, de fato, a sua missão principal, em termos de igreja).

Por isso ele recusou-se a aceitar a pregação de um certo tipo de teologia (correntes da chamada Teologia da Libertação) onde a influencia do marxismo era demasiado visível. A pressão exercida sobre o frade brasileiro Leo nardo Boff deriva diretamente dessa orientação. Proibido de ensinar em nome da Igreja, Boff optou por seguir o seu próprio caminho, rompendo com o Vaticano.

Fisicamente alquebrado, menos pela idade do que pelos efeitos de um atentado e de um pontificado tao intenso, João Paulo II ainda foi capaz de eletrizar multidões em sua ultima visita ao Brasil, em 1997, provando que entre as suas diversas qualidades, esta um carisma extraordinário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978

Cai uma barreira no Oriente Médio

Israel e Egito eram inimigos históricos, com quatro guerras travadas em 30 anos, quando seus lideres se reuniram, em 1978 para disputar mais uma batalha dramática, dessa vez no até enato inédito, para eles, campo da diplomacia. Ciceroneados pelo presidente americano Jimmy Carter, o primeiro-ministro israelense Menahem Begin e o presidente egípcio Anwar Sadat se enclausuraram durante 12 dias em Camp David, retiro presidencial em Maryland, para redigir o esboço de um ansiado tratado de paz. O resultado foram dois acordos, anunciados em 17 de setembro numa cerimônia transmitida para todo o mundo com direito a um surpreendente abraço de Begin e Sadat.

O primeiro acordo previa a devolução ao Egito da península do Sinai, conquistada por Israel na Guerra dos Seis Dias, e a normalização das relações diplomáticas entre os dois vizinhos. O segundo, mais suscetível a futuras discussões, referia-se ao futuro dos territórios palestinos da Cisjordania e da Faixa de Gaza, ocupados na mesma guerra, com a concessão de alguma autonomia aos palestinos. O entendimento—- ratificado em 26 de março de 1979, em Washington, quando Begin e Sadat assinaram o tratado definitivo—foi saudado como uma mudança de rumo no Oriente Médio, passo fundamental para o entendimento mais amplo naquela região explosiva.

Tudo acontecera muito rápido. Começou com uma visita de Sadat a Jerusalém, em novembro de 1977. O presidente egípcio, dirigindo-se ao parlamento israelense, disse acreditar que a paz seria possível se os dois países quebrassem a "barreira psicológica de desconfiança e suspeita mutuas". Aberto o caminho para as negociações, surgiu o impasse, já que os dois governos divergiam em questões fundamentais. Nesse momento entrou em cena o presidente americano convidando os dois lideres a Camp David. La, depois de um rotina exaustiva de encontros, nos quais o papel de Jimmy Carter foi fundamental, os dois firmaram o compromisso político.

Os Acordos de Camp David, como passaram a ser chamados, trouxeram prestigio para Sadat e Begin (que dividiram o prêmio Nobel da Paz de 1979) e fizeram jorrar investimentos na região, principalmente no Egito, destinados a reconstrução e modernização do pais. A iniciativa de Sadat não foi bem vista pelos colegas árabes, acarretando na expulsão do Egito da Liga Árabe. Em casa, porem, o acordo foi ratificado em plebiscito com 99% de aprovação. Algum integrante do 1% fez Sadat pagar com a própria vida a ousadia diplomática: em 1981, ele seria assassinado. Combatido por extremistas de ambos os lados, o processo de paz mostrou-se irrevogável. Nos anos 90, incluiria até o grupo terrorista Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

A caminho da Independência

A transição do poder da minoria branca para a maioria negra começou, em 1978, a se tornar viável na Rodésia, uma colônia britânica ate no nome (do colonizador Cecil Rhodes) associado aos brancos e a uma história de racismo e intolerância. O primeiro ministro Ian Smith negociou, nesse ano, com lideres negros moderados, um acordo que previa as primeiras eleições com sufrágio universal, inicio de um processo que desembocaria, em 1980, na independência do pais, com o novo nome de Zimbábue.

Na verdade, Smith, líder de uma população de 230 mil brancos, já havia proclamado a independência em 1965, logo após assumir o cargo, irritado com as pressões da Grã-Bretanha para conceder mais poderes aos 6,7 milhoes de negros. Nem a metrópole nem a comunidade internacional, porem, reconheceram a nação segregacionista, a qual a ONU impôs um embargo comercial. A guerra civil que se seguiu, e as dificuldades econômicas—o governo desviou grande parte do orçamento para combater a guerrilha—fizeram com que Smith finalmente negociasse com os negros moderados, cujo principal representante era o bispo metodista Abel Muzorewa.

Muzorewa ganhou as eleições de 1978, para as quais os brancos haviam se cercado de garantias: o Exercito, a justiça e a policia ficariam sob seu controle por dez anos, assim como Ihes seriam asseguradas 28 das cem cadeiras do parlamento. Essas condições confirmaram para os negros que o governo de Muzorewa (coalizão com a Frente Rodesiana de Ian Smith) seria na verdade uma fachada para a manutenção do poder dos brancos.

Unidos na Frente Patriótica, dois grupos guerrilheiros negros intensificaram então seus ataques, numa guerra civil em que 20 mil pessoas morreriam. Acuado, Smith concordou em negociar, em Londres, dessa vez com os lideres da guerrilha. Enquanto isso, a Grã-Bretanha retomava temporariamente o controle do pais, para reconhece-lo, como Zimbábue, em abril de 1980.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

O terror chega ao auge na Itália

Durante 55 dias, entre março e maio de 1978, a Itália acompanhou com angustia a provação de Aldo Moro. O líder do poderoso Partido Democrata Cristão, cinco vezes primeiro-ministro, duas vezes ministro do Exterior e pule de dez nas eleições presidenciais marcadas para dezembro daquele ano, foi seqüestrado, em 16 de marco, por um comando das Brigadas Vermelhas, a caminho da Câmara dos Deputados. O veterano político de 62 anos, 32 dedicados a vida publica, era a mais alta autoridade a cair nas mãos da organização terrorista de extrema esquerda, que desde sua criação, em 1970, promovia atentados, assassinatos e seqüestros no pais. Em troca de Moro, exigia-se a libertação de 13 lideres das Brigadas detidos nas prisões italianas.

O governo mobilizou 50 mil policiais, mas se recusou a negociar com os captores. Enquanto os brigadistas divulgavam comunicados anunciando que Moro estava sendo "julgado", personalidades internacionais tentavam interceder. Alguns, como o Papa Paulo Vl, do alto de sua condição de líder espiritual; outros, como Muamar Kadafi, no papel de presidente da Líbia e aliado do pequeno clube do terrorismo internacional. Em vão. O sexto e ultimo comunicado das Brigadas Vermelhas informava que Aldo Moro fora condenado a morte. Em 9 de maio, o corpo do político, crivado de balas, foi encontrado dentro de um pequeno Renault, no centro de Roma, estacionado num local entre as sedes dos partidos Democrata Cristão e Comunista.

Era uma piada mórbida: os brigadistas consideravam uma traição o acordo em que os comunistas, o segundo maior grupo político do pais, passavam a fazer parte de um governo de coalizão de centro esquerda. A aliança fora arquitetada por Moro, defensor, desde os anos 60, da tese de que só um governo de centro esquerda poderia garantir a estabilidade política da Itália.

O seqüestro de Aldo Moro foi respondido com uma ação persistente e eficaz da policia, que prendeu, em alguns anos, centenas de militantes (29 foram condenados pelo assassinato). As Brigadas Vermelhas, com cerca de 500 membros atuantes e uns poucos milhares de simpatizantes, era um movimento típico dos turbulentos anos 70 e não resistiria as transformações da década de 80.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

O inferno segundo o reverendo Jones

A mistura de misticismo, política e fanatismo resultou, em novembro de 1978, num espetáculo de horror na Guiana. Ali, numa colônia agrícola batizada de Jonestown, 913 americanos da seita Templo do Povo, fundada por Jim Jones, líder espiritual que se dizia a "reencarnação de Cristo", promoveram um trágico suicídio em massa. Instigados por Jones— no caso dos renitentes, convencidos por armas apontadas para suas cabeças—homens, mulheres e crianças ingeriram um coquetel de cianureto e tranqüilizantes diluídos em refresco de frutas. Em pouco tempo, os corpos se amontoavam no chão. Jones, ele próprio, matou-se com um tiro no rosto.

Vários ensaios de suicídio coletivo já haviam sido feitos em Jonestown, como um "teste de lealdade". A decisão de passar a pratica fora precipitada pela visita de um deputado americano, Leo Ryan, que seguira para a Guiana depois de receber denuncias de abusos sexuais, escravidão e maus-tratos impostos aos moradores da colônia. Ryan e sua comitiva, formada por assessores, jornalistas e parentes de seguidores de Jones, foram recebidos com festa, mas bilhetes passados disfarçadamente desmentiam a alegria: vários moradores imploravam para serem retirados de la.

Numa conversa com Jones, Ryan teve a garantia de que quem quisesse era livre para partir. Não foi o que se viu. No dia seguinte, os americanos se preparavam para subir nos aviões, quando foram atacados a tiros por capangas do reverendo. Ryan, três jornalistas e uma jovem que abandonara a seita morreram na operação planejada as pressas (o plano inicial, o assassinato do piloto em pleno vôo por um suicida, para que tudo passasse por um acidente aéreo, não pode ser posto em pratica). Informado do acontecido e com cinco mortes pelos quais teria que prestar contas. o reverendo decidiu-se pelo massacre.

A carreira de líder espiritual de Jones começou aos 22 anos, ao fundar a sua igreja. Em 1962-63, antes de ir para a Califórnia, morou no Rio e em Belo Horizonte. Segundo lera numa revista, a capital mineira era um dos melhores lugares para se salvar de uma hecatombe nuclear, idéia que o perseguia. Na Califórnia, arrebanhou seguidores pobres, dos quais em pouco tempo extorquiu os bens. As denuncias o levaram a se mudar, no fim de 1977, para a Guiana, onde prometia um "paraíso marxista cristão". Em vez disso, veio o inferno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978

A revolução de Louise Brown

Desde os primórdios da Humanidade, a reproduc3O humana não sofrera transformações—para se conceber uma criança, o ato sexual era etapa imprescindível. Pois deixou de ser no dia 24 de julho de 1978, quando Louise Brown nasceu de cesariana no Hospital de Oldham, cidade industrial no noroeste da Inglaterra Louise, uma lourinha de 2,608 quilos, era o primeiro bebe de proveta do mundo. Seu nascimento dava esperança a milhoes de mulheres estéreis e apontava numerosos desdobramentos para a medicina genética.

O ginecologista Patrick Steptoe e o fisiologista Robert Edwards já vinham fazendo experiências com reprodução em laboratório, ha 12 anos, quando foram procurados pelo motorista de caminhão John Brown e a mulher Lesley, estéril devido a um bloqueio nas trompas de Falópio. Os médicos aplicaram os procedimentos em que vinham trabalhando: a paciente recebeu hormônios para que ovulasse no momento adequado, quando, então, teve o óvulo retirado. Este foi fecundado em laboratório, com um espermatozóide do marido, e alguns dias depois implantado no útero, onde continuou a se desenvolver. Steptoe e Edwards haviam feito o mesmo procedimento mais de 200 vezes, fracassando sempre. Daquela vez seria diferente. O feto resistiu e cresceu normalmente no útero de Lesley.

O êxito da gestação provocou debates envolvendo questões religiosas, éticas e morais. Muitos temiam que a nova técnica pudesse ser a concretização do sonho maluco de Hitler, de uma raça superior, geneticamente controlada. Outros, a possibilidade de se criar crianças defeituosas, pequenos monstros. Previram-se, ainda, os clones, concebidos diretamente a partir das células de alguém.

Enquanto isso, anunciava-se que outras três inglesas estavam gravidas pelo mesmo método. Mas elas preferiram manter-se no anonimato, ao contrário do que acontecera com os pais de Louise. Eles venderam a exclusividade da história a Associated Newspapers, empresa que edita o jornal londrino "Daily Mail", por cerca de US$ 560 mil, e ate fizeram turnê pelos Estados Unidos e Japão, exibindo a novidade. Em pouco tempo, porem, os bebes concebidos in vitro, ou seja, em laboratório, se tornariam comuns: em 15 anos, mais de 100 mil crianças nasceriam por esse método —entre elas uma irmã de Louise, Nathalie Jane, em 1982.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

Toneladas de petróleo no mar

Em março de 1978, o mundo assistiu a um desastre ecológico de proporções até então inéditas nos oceanos. O superpetroleiro "Amoco Cadiz", de bandeira liberiana e freta do pela Shell, estava no Atlântico, perto da costa da Franca, quando os tripulantes perceberam falhas irreparáveis em seu controle. Tentou-se reboca-lo, mas as ondas altas e ventos fortes da região foram implacáveis: no dia 17, o "Amoco Cadiz" chocou-se contra recifes, a cinco quilômetros do litoral, partiu-se em dois e começou a despejar no mar a sua carga mortífera: 230 mil toneladas de óleo cru.

Os 46 tripulantes foram resgatados por helicópteros, mas a vida marinha não pode contar com o mesmo auxilio. Em poucas horas, o petróleo havia atingido 80 quilômetros de praias na região da Bretanha. O Governo francês, na tentativa de deter o avanço da "maré negra", lançou pó de giz e detergentes rio mar recebeu a ajuda dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Alemanha Ocidental e do Japão. Pescadores esforçavam-se para montar barreiras com bóias e redes, mas o mar revolto prejudicava o trabalho. Dez dias depois, o óleo já afetara 150 quilômetros de praias e voluntários tentavam salvar milhares de aves marinhas, num trabalho infrutífero. O petróleo do "Amoco Cadiz" era 15 vezes mais tóxico do que o derramado pelo "Torrey Canyon", que naufragara na mesma região em 1967, lançando ao mar 30 mil toneladas de óleo cru.

O desastre do "Amoco Cadiz" não causou apenas danos ecológicos, como a morte de 15 mil aves. A atividade turística na costa bretã sofreu enormes prejuízos e perderam-se 80% da produção de ostras e crustáceos da Franca. Os esforços para conter a "maré negra" também preocupavam os ambientalistas; temiam eles que os detergentes fossem mais nocivos do que o próprio petróleo. Em 23 de marco, o óleo chegou a Inglaterra.

Por fim, decidiu-se apressar o epilogo da tragédia e dinamitar o navio naufragado, para liberar de uma vez as 35 mil toneladas de petróleo que permaneciam em seus tanques. O objetivo era apressar o derramamento, a fim de tornar mais eficaz a ação de limpeza. Logo, a Franca proibia navios-tanque de trafegarem a menos de sete milhas náuticas do seu litoral. Em 11 anos, o naufrágio do "Amoco Cadiz" fora o sexto acidente do gênero na região.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

Superprodução e supersucesso

"É um pássaro? É um avião? Não, é o Super-homem." Em 1978, os produtores Alexander Salkind e seu filho Ilya ressuscitaram o velho bordão do Homem de Aço e levaram a tela o longa-metragem "Superman, o filme". A estreia da superprodução, que custou US$ 50 milhoes, a mais cara da época, ocorreu em 10 de dezembro, em Washington. Cinco dias depois, o super-herói sobrevoava 100 cinemas dos EUA, Canada e Inglaterra, rendendo, em uma semana, US$ 13 milhões, US$ 3 milhões a mais do que "Guerra nas estrelas" tinha faturado no mesmo período. Era só o começo. A reboque do sucesso planetário, a Warner Brothers arrecadou milhoes com merchandising, franqueando mais de mil produtos com a grife do personagem da DC Comics.

O sonho dos Salkind de levar as telas o Super-Homem se realizava com um estrondoso sucesso. Mario Puzo, autor e co-roteirista de "O poderoso chefão", escreveu a história do mais famoso defensor dos valores da América, criado pelos estudantes Jerry Siegel e Joe Schuster em 1933. O roteiro ainda receberia o tratamento final de Tom Mankiewicz.

O maior chamariz da produção, entretanto, foi a contratação de Marlon Brando para o papel de Jor-EI, que envia a Terra seu único filho para poupa-lo da destruição do planeta Kripton. Brando ganhou, por 12 dias de trabalho, US$ 3,7 milhoes de cache. Com seu nome piscando nos cartazes, os produtores puderam se dar ao luxo de investir num desconhecido para o papel-título, depois que Robert Redford declinou do convite: o novato Christopher Reeve, 26 anos, que passou por dois meses de condicionamento físico para desenvolver o phisique du rôle adequado.

Com duas horas e vinte e três minutos de duração, a grandiosa aventura dirigida por Richard Donner (de "A profecia") foi acusada de anacronismo e esquizofrenia estilística. No entanto, o filme diverte, injetando humor e reacendendo o charme do personagem, graças a Reeve, que se saiu bem envergando a malha azul do mocinho, carregando a repórter Lois Lane (Margot Kider) para um passeio sobre Manhattan. Neste filme inaugural, o herói enfrenta o vilão Lex Luthor (Gene Hackman).

Uma briga de Donner com a produção fez com que o segundo episódio, "Superman II", filmado simultaneamente ao primeiro, fosse concluído por outro diretor, Richard Lester. A cinessérie rendeu ainda mais dois episódios irregulares, "Superman III" (1982) e "Superman IV: Em busca da paz" (1987), todos com Reeve, que teria a carreira interrompida, em 1995, por um trágico acidente: ficou tetraplégico ao cair de um cavalo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

Da arte metafísica ao classicismo

Manequins de longas cabeças ovaladas, chaminés industriais e canhões projetando sombras em cenários desérticos, que evocam o classicismo arquitetônico. Estes elementos pictóricos consagraram o estilo de Giorgio De Chirico, morto em Roma, em novembro de 1978, aos 90 anos. Surrealista antes dos surrealistas, criador (com Carlo Carrà) da chamada pintura metafísica, De Chirico foi um dos mais controvertidos artistas do século, suscitando, no meio especializado em arte, as opiniões as mais divergentes.

Nascido em Volos, na Grécia, para onde o pai, engenheiro de família siciliana e nobre, havia se transferido para construir uma ferrovia, De Chirico iniciou-se cedo no desenho. Após se instalar em Munique, em 1906, foi influenciado pela filosofia de Nietszche e Schopenhauer e pela pintura do suíço Arnold Bocklin. O pintor realizou o melhor de sua produção entre 1910 e 1917, quando morou na Itália e Paris, onde, mesmo com o cubismo em alta, sua arte conquistou o reconhecimento de Picasso e do poeta e critico Guillaume Apollinaire. São dessa época "O grande metafísico", "O enigma de uma tarde de outono", "Praça da Itália", "As duas irmãs" e "Retrato premonitório de Guillaume Apollinaire".

Mas, a partir de 1918, De Chirico voltou-se para o que considerava a verdadeira arte, a dos grandes mestres do passado. Renegou, inclusive, o período de vanguarda, que julgou ser um mero exercício de revisão de uma corrente do século XV, o geometrismo prospectivo. começou a pintar telas inspiradas nos renascentistas, como Rafael e Ticiano. Os surrealistas, que o haviam entronizado como precursor do movimento, o rejeitaram, decretando sua morte artística em 1920. Afável e irônico, amante do dinheiro, De Chirico passou as ultimas décadas de vida copiando obras de sua primeira fase. "Os quadros daquela época são muito procurados e bem pagos. Por que não posso pinta-los de novo?", argumentava.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1978 

Brasil inventa a ‘vitória moral'

O lugar comum "o futebol e uma caixinha de surpresas" não foi criado na Copa do Mundo de 1978, mas bem que poderia ter sido. Realizada numa Argentina assolada pela inflação e governada por uma junta militar, o 11° mundial foi vencido pela dona da casa, numa disputa em que houve uma grande dose de fatos, no mínimo, surpreendentes. O mais esquisito foi a eliminação do Brasil, após os argentinos, nas quartas-de-final, derrotarem os peruanos pelo improvável placar de 6 a 0.

Desde a queda do treinador Osvaldo Brandão, que disputara as eliminatórias, a seleção brasileira era comandada por Cláudio Coutinho, o preparador físico de 1970, um estudioso que introduziu no futebol termos como "overlapping" e "ponto futuro". Com uma campanha medíocre, o time seguiu aos trancos ate vencer a Polônia, na segunda fase, por 3 a 1, e ficar a um passo da final. A Argentina, que fazia parte do mesmo grupo, tinha o mesmo numero de pontos ganhos que o Brasil e jogaria mais tarde no mesmo dia. precisaria vencer os peruanos por uma diferença de quatro gols para tirar os brasileiros do páreo e jogar a final com a classificada Holanda. Uma missão possível, mas muito difícil, principalmente porque o Peru não vinha fazendo feio.

Deu-se que a Argentina meteu os quatro e ainda fez mais dois gols, por via das duvidas. Ha quem diga que isso nada teve a ver com o fato de Quiroga, o goleiro peruano, ter nascido na Argentina. Seja como for, seus conterrâneos acabaram se sagrando campeões do mundo ao vencer a Holanda por 3 a 1, na prorrogação. O Brasil, por sua vez, teve que se contentar com o terceiro lugar, ao bater a Itália por 2 a 1, encerrando a sua participação na Copa sem ter perdido um único jogo e com os mesmos 11 pontos obtidos pela campeã.

Num mundial sem grandes estrelas, o jeito foi a seleção brasileira se autoproclamar também campeã, só que "moral". Esquisitices a parte, a Copa da Argentina ficou na história do esporte brasileiro pela despedida de Rivelino da seleção e pela intervenção do presidente da CBD, o almirante Heleno Nunes, na escalação do time, barrando Zico e Reinaldo para escalar Jorge Mendonça e Roberto Dinamite.

Fonte: O Globo - Texto integral