Em 1982 as principais manchetes foram estas:
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Estranhas criaturas conquistam o planeta |
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Derrota custa caro ao regime militar |
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Sangrenta missão de paz na Galiléia |
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Começa o fim de uma era na URSS | |
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Estranhas criaturas conquistam o planeta
Descaracterizado por dezenas de plásticas, mais o enigmático embranquecimento de sua peleque ele alega ser vitiligohoje pode parecer que Michael Jackson e o verdadeiro E.T. Mas, em 1982, ao lançar o álbum "Thriller", aquele rapaz, então com 24 anos, estava conseguindo fazer a melhor síntese do pop de sua época. O mais talentoso no grupo Jackson 5, que dividia com seus irmãos, Michael uniu em "Thriller" qualidade e sucesso comercial. E bota sucesso nisso, tanto que continua com seu lugar garantido no livro "Guinness" como o artista que gravou o disco de maior vendagem na hist6ria da musicano fim de 1998, beirava 50 milhões de cópias.
O paralelo com o personagem do filme de Steven Spielberg não e apenas uma piada politicamente incorreta. "E.T.O extraterrestre" foi também, por uma década, o recordista de bilheteria no cinema, ate ser batido por outro filme dirigido por Spielberg, "Jurassic Park O parque dos dinossauros", em 1993. "E.T." chegou ao publico no mesmo ano de Thriller, encantando platéias de todo o planeta com a história de um simpático, apesar de horroroso, alienígena de 75cm de altura que e abandonado na Terra por seus companheiros.
"Thriller" e "E.T." espalhavam a cultura pop por todos os recantos do mundo, num ano em que as previsões do canadense Marshall McLuhan de uma aldeia global pareciam se confirmar. Na época, o contato entre Michael Jackson e o personagem alienígena também chegou aos estúdios de gravação. O cantor foi o narrador de um disco com a hist6ria de E.T., mas esta produc30 conjunta de Spielberg e Quincy Jones (o homem por trás da arquitetura sonora de "Thriller") acabou abortada por problemas contratuais.
Nem sempre o sucesso tem explicações racionais, mas tanto "Thriller" quanto "E.T." tinham ingredientes de sobra para se tornarem clássicos. No mundo da musica pop, o terreno já estava bem adubado para o surgimento de um megastar negro. Desde os anos 50, quando o branquelo Elvis Presley transformou-se no maior fenômeno da cultura de massa fazendo uma musica basicamente de raiz negra (o rhythm 'n' blues), o pop vinha se alimentando da produção nascida nos guetos afro-americanos. Artistas como Little Richard, James Brown, Diana Ross, Stevie Wonder ou mesmo os irmãos Jackson foram alguns dos muitos que freqüentaram as paradas de sucesso. Conquistaram o publico branco, mas nunca quebraram definitivamente as barreiras raciais.
Michael Jackson (nascido Michael Joseph Jackson, em 29 de agosto de 1958, em Gary, estado de Indiana), com seu jeito de bom menino, era o mais talhado para o trono. Foi um artista que, literalmente, cresceu em público, e no disco anterior a "Thriller", o primoroso "Off the wall", em 1979, também produzido por Quincy Jones, provara que estava pronto. Antes de se tornar um dos mais requisitados produtores do pop, Jones desenvolveu uma respeitada carreira no jazz, tocando trompete e/ou fazendo arranjos para nomes como Count Basie, Sarah Vaughan, Ray Charles, Frank Sinatra. O contato de produtor com Michael começara cinco anos antes, na trilha do filme musical "The wiz" (nova versão, de 1978, de "O magico de Oz", com a cantora soul Diana Ross e a participação do então líder do Jackson 5). Com faro aguçado para o sucesso, Jones passou a apostar em Michael e, em "Thriller", procurou juntar os ingredientes certos para o cantor. Uma mistura que, mal dosada poderia resultar em um bolo de noiva do kitsch, com pop, soul, funk, a guitarra hard rock de Eddie Van Halen (o líder do grupo Van Halen sola em "Beat it"), a percussão do brasileiro Paulinho da Costa, a locução do canastrão do terror Vincent Price (que faz um mezzo rap na canção titulo) e ate um ex-Beatle, Paul McCartney. McCartney foi o parceiro e cantou com Michael na primeira canção de "Thriller" a chegar ao primeiro lugar das paradas americana e inglesa, "The girl is mine" em troca, Michael faria o mesmo, dividindo a faixa "Say say say", no disco "Pipes of peace" de McCartney, lançado no ano seguinte. Mas a amizade e a parceria não duraria muito. Paul nunca perdoou o fato de, em 1985, Jackson ter Ihe passado a perna num leilão e comprado, por US$ 47,5 milhões, a editora que controlava as composições de Lennon & McCartney.
A produção de Quincy Jones em "Thriller" continua sendo um padrão para o pop, mas o álbum teve outro aliado fundamental para o sucesso: o videoclipe. Em mais uma tacada que mostrava senso de oportunidade, eles souberam aproveitar o crescimento da MTV, que começava a se espalhar pelos EUA e Europa, embalando as canções do disco em bem-acabados vídeos que exploravam/ampliavam o talento de Michael como dançarino. Com enredos e produc30 típicos do cinema, os clipes eram tratados como um novo produto, e n30 mais uma simples peca promocional. Para "Thriller", com seu bale de mortos-vivos e a transformac30 de Michael num lobisomem, foi escalado o diretor John Landis. Em "Beat it", coreografia e cenários remetiam ao clássico musical "West Side story", enquanto Michael era saudado como uma espécie de Fred Astaire do pop. Exageros a parte, o sucesso do álbum continua imbatívelchegou ao primeiro lugar de todos países do Ocidente e, nos EUA, permaneceu no topo da parada da revista "Billboard" por 37 semanas. Tal desempenho comercial foi acompanhado pelo entusiasmo da critica. Indicado para 12 categorias no prêmio Grammy (o Oscar da indústria do disco americana), Michael saiu da festa de entrega, em fevereiro de 1983, com oito prêmios.
Também um garoto prodígio para os padrões de Hollywood, Steven Spielberg (nascido em 18 de dezembro de 1947, em Cincinnati, estado de Ohio) tinha 35 anos quando lançou "E.T.", e já carregava na bagagem alguns outros sucessos de bilheteria: "Tubarão"(75), "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (78) e "Os caçadores da arca perdida" (81). Ao contrario de Michael Jackson e Quincy Jones, que se cercaram de outras estrelas do pop na produção de "Thriller", Spielberg manteve em "E.T." a tática de não trabalhar com nomes consagrados. Alem do personagem titulo (sob a pele e maquiagem alternaram-se dois anões, Pat Bilson e Tâmara de Treaux, e um garoto, Matthew de Merritt, enquanto para as falas do alienígena, reprocessadas em estúdio, foram usadas as vozes das atrizes Debra Winger e Pat Welsh), os outros papeis principais eram das então anônimas crianças Henry Thomas (o garoto Elliott, que faz contato e abriga o extraterrestre) e Drew Barrymore (Gertie, irmã menor de Elliott).
Com a capacidade de tocar a alma das crianças (ou o lado infantil que os adultos carregam dentro de si), Steven Spielberg imprimiu a "E.T." o tom de fabula contemporânea. A câmera e sempre mantida numa altura inferior a um metro, oferecendo o ponto de vista das criançasdai a aparência assustadora dos adultos no filme, vistos de baixo para cima. Os humanos adultos, sejam cientistas da Nasa ou policiais, s30 os verdadeiros vilões. Para Hollywood, que sempre manteve uma relação de amor e ódio com Spielberg, "E.T." foi entendido como o melhor filme que Disney nunca fez. Apesar do sucesso nas bilheterias, o desempenho nas premiações do Oscar foi decepcionante. Indicado em dez categorias, ganhou as de menor prestigiomelhor m6sica (John Williams) som, efeitos sonoros e efeitos visuaisperdendo, entre outras, as de melhor filme (para "Gandhi"), direção e roteiro.
A carreira de Spielberg continuou de vento em popa. O diretor alternaria os que poderiam ser chamados de seus filmes infantis (e melhores)as duas seqüências de Indiana Jones, com Harrison Ford "O templo da perdição" (1984) e "A ultima cruzada" (1989), além de "HookA volta do Capitão Gancho" (1991), "O parque dos dinossauros" (1993), "O mundo perdido" (1996)com suas produções "serias", como "A cor purpura" (1985), "Império do sol" (1987) e os premiados "A lista de Schindler" (1993) e "O resgate do soldado Ryan" (1998).
Com poucas exceções"Hook", por exemplotodos confirmaram 0 toque de Midas do diretor, que também participou como produtor executivo de mais uma dezenas de sucessos de bilheteria. Michael não teve a mesma sorteou habilidadepara manter o sucesso. A jacksonmania, que prolongou-se ate meados dos anos 90, nunca foi acompanhada pelo mesmo desempenho artístico. Os discos foram piorando gradualmente, o ator nunca passou de bom figurante de seus videoclipes, a promessa de um Astaire pop patinou num único passoo moonwalk, que deslumbrara o planeta durante sua apresentação, em maio de 1983, na festa dos 25 anos da gravadora Motown, quando cantou "Billie Jean", faixa de "Thriller".
Além da crise artística, um escândalo, detonado pela acusação, em agosto de 1993, de que teria molestado sexualmente um garoto, quebrou 0 namoro da América com 0 ídolo. O caso foi encerradodepois que os advogados de Michael chegaram a um polpudo acordo com a família do menormas 0 astro não se recuperou do baque. Mesmo depois do efêmero casamento com a filha de Elvis, Lisa Marie Presley, e de seu segundo contrato matrimonial, com a ex-enfermeira Debbie Rowe, que Ihe deu dois filhos, Michael Jackson chegou ao fim do século estranho e enigmático como um alienígena.
Derrota custa caro ao regime militar
Econômica e politicamente, a Argentina vivia um momento crítico quando seu presidente, o general Leopoldo Caltieri, tirou do quepe a idéia de reaver as ilhas Malvinas (ou Falklands), ao sudeste do país, em poder da Grã-Bretanha desde 1833 e habitadas em 1982 por cerca de 1.800 pessoas, quase todas de origem britânica. O povo encheu a Praça de Maio como nos tempos de Perón, apoiando a aventura de Galtieri: até opositores do regime foram tomados pelo fervor patriótico.
No dia 2 de abril, tropas argentinas invadiram as Malvinas. Sob o jugo repentino e desconhecido de uma ditadura militar, os ilhéus, chamados kelpers, foram proibidos de sair de casa nos primeiros 15 dias. Mas logo a ilusão de que a Inglaterra não se preocuparia em reaver sua distante colônia se desfez. Em 25 de abril, a frota britânica (mais de cem navios) retomou o arquipélago da Geórgia do Sul, o primeiro a ser invadido. As batalhas começaram no dia 1° de maio, quando os ingleses isolaram 9.000 soldados argentinos.
Passadas sete semanas da invasão argentina. os britânicos já ocupavam as Falklands e preparavam o ataque final, mantendo o bloqueio naval e um bombardeio contínuo e pesado para obrigar os argentinos a gastar munição que eram incapazes de repor. O desequilíbrio de forças era evidente, a ponto de um militar argentino dizer que tinha a impressão de lutar contra um exército de outra galáxia, onde havia roupas especiais, sofisticados aparelhos eletrônicos e rações com carne e salada de frutas. Isolados, os argentinos obtinham água com dificuldade e foram obrigados a pedir comida aos kelpers, sem sucesso.
Certos da derrota, os argentinos trataram de impor perdas de impacto ao inimigo, com ousadas operações aéreas e ataques de mísseis comprados no mercado negro por até o triplo do preço. Mas, em 14 de junho, os ingleses reassumiam o comando das ilhas diante de argentinos humilhados e kelpers aliviados. A Operação Babel teve para os ingleses um custo desproporcional ao valor econômico e estratégico das ilhas. Manter ali uma força militar, para evitar uma nova invasão, acabaria saindo mais caro do que retomá-la.
Em dois meses, a Argentina perdera 712 soldados imberbes e inexperientes; a Inglaterra, 255. A humilhação derrubou não só Galtieri, que renunciou, mas o próprio regime. O general Reynaldo Bignone assumiu o poder prometendo eleições presidenciais no ano seguinte.
Sangrenta missão de paz na Galiléia
"Um bebê de fraldas, talvez sem ter completado um ano de idade, jazia de bruços, a cabeça despedaçada." A descrição do repórter Loren Jenkins, do jornal "Washington Post", traduz o horror que a chacina de cerca de mil palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute, provocou no mundo todo. Ocorrida em setembro de 1982, ela foi o dramático desfecho da invasão do Líbano por Israel, que, iniciada em 4 de junho daquele ano, destruiu metade do país e matou milhares de civis. O objetivo militar foi atingido. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) perdeu suas bases no país e mais de 30 mil soldados sírios, que ocupavam o norte do Líbano há seis anos, tiveram que bater em retirada, com pesadas baixas.
O custo militar para Israel, que utilizou mais 30 mil soldados na invasão, foi estimado em torno de 1.300 baixas, entre mortos e feridos. Do outro lado, os mortos teriam sido dez mil aí incluídos os mil de Sabra e Chatilae os feridos, outro tanto, embora muitos acreditem em números maiores. A invasão começou um dia após o atentado ao embaixador israelense na Inglaterra, Shlomon Argov, condenado a uma vida vegetativa depois que a bala disparada por um terrorista palestino atravessou seu cérebro.
Apoiados por tanques, caças e navios, as forças israelenses só encontraram maior resistência quando enfrentaram os sírios, ao norte, onde ocorreu a maior batalha aérea desde a Segunda Guerra Mundial. A invasão teve como conseqüência o fim da guerra entre Irã e Iraque, com a vitória do Irã. Os dois países se uniram contra o inimigo comum, Israel, que pela primeira vez ocupava a capital de um país árabe. Foi no setor oeste de Beirute que o exército israelense, embora não participasse diretamente do massacre, permitiu que as milícias cristas do Líbano assassinassem os refugiados palestinos de Sabra e Chatilaentre eles mulheres, velhos e criançassob o pretexto de "procurar terroristas".
A própria população de Tel Aviv, capital de Israel, foi as ruas protestar contra a carnificina, comparada ao extermínio de judeus pelos nazistas. O inquérito sobre o extermínio acusou diversas autoridades e provocou a demissão do truculento ministro da Defesa, Ariel Sharon. Diante de uma forte pressão dos Estados Unidos, Beirute começou a ser desocupada em outubro, mas as forças de Israel só abandonariam definitivamente o Líbano em 1985. Terminava assim a operação militar que o primeiro-ministro israelense, Menahen Begin, chamou de "Paz para a Galiléia".
Jovem, socialista e cauteloso
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) obteve vitoria esmagadora nas eleições gerais de 28 de outubro de 1982 e levou ao poder o mais jovem primeiro-ministro europeu, o advogado trabalhista Felipe Gonzalez Marquez, de 40 anos. Os socialistas conquistaram 201 das 350 cadeiras das Cortes, o parlamento espanhol, contra 120 na legislatura anterior. A direitista Alianza Popular, herdeira do franquismo, decuplicou sua representação, elegendo 106 deputados, e os demais partidos sofreram fragorosa derrota.
Nascido em Sevilha, Andaluzia, em 5 de março de 1942, Felipe Gonzalez entrou em 1964 para o então clandestino PSOE, do qual secretário-geral dez anos depois. Em 1977, legalizado o PSOE, elegeu-se deputado por Madri sendo reeleito em 1979. Dois anos depois, tornou-se vice-presidente da Internacional Socialista. A eleição do jovem socialista para primeiro ministro foi de início celebrada como uma remanche da esquerda, 43 anos depois da Guerra Civil. Mas o tom moderado de Gonzalez prevaleceu e ditou um ritmo lento para a transição marcada pelo temor de uma tentativa de golpe da linha dura militar. O Rei Juan Carlos I teve importante papel como símbolo de equilíbrio do poder.
O triunfo na Espanha seguia-se a êxitos socialistas na França, na Grécia e na Suécia. Mas, diferentemente do francês Mitterrand, que iniciou o governo nacionalizando bancos e tomando medidas de impacto social, Gonzalez optou desde o início pela cautela, com um programa conservador: contenção salarial e aumento dos lucros para vencer a recessão e corte de gastos para combater a inflação.
O desemprego aumentou e veio uma onda de greves. Na eleição seguinte, em 1986, o PSOE viu sua representação cair para 184 deputados, mas manteve a maioria absoluta. Gonzalez seria reeleito ainda em 1990 e 1993, quando os socialistas tiveram sua bancada reduzida a 159 deputados. Em dezembro de 1995, em meio a uma série de escândalos financeiros e políticos e a perda da maioria parlamentar, anunciou a antecipação da eleição geral para março de 1996. Seria derrotado por José Maria Azoar, do direitista Partido Popular. Depois de 13 anos a frente do Governo espanhol, tendo conduzido o país a plena integração no Mercado Comum Europeu, Gonzalez visitou em 1996 o Brasil, onde foi recebido com a aura de um dos inspiradores políticos do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Começa o fim de uma era na URSS
O quarto líder na história soviética, Leonid llitch Brejnev, governou com poder inconteste desde outubro de 1964, quando derrubou Nikita Kruchov num golpe sem sangue, até morrer de um ataque cardíaco, em 10 de novembro de 1982, aos 75 anos. Conservador, reprimiu toda dissidência. Não resolveu graves problemas econômicos do país nem melhorou de forma sensível o nível de vida da população, declaradamente um dos seus objetivos ao assumir, mas elevou a URSS ao patamar de superpotência, ao equilíbrio estratégico com os EUA e a política de distensão.
Brejnev nasceu na Ucrânia, em 19 de dezembro de 1906, filho de um metalúrgico. Aos 17 anos, já integrava a Juventude Comunista. Entrou para o PC aos 25 e tornou-se comissário político, subindo na carreira junto com Kruchov. Foi encarregado de questões administrativas da Ucrânia, Moldávia e Kasaquistão. Ao assumir o poder supremo, tentou reaproximar-se da China, sem sucesso. Investiu pesado na estrutura de defesa e, ao mesmo tempo, buscou entendimento com os EUA para limitar as armas estratégicasassinou tratados nesse sentido com os presidentes Richard Nixon (1972) e Jimmy Carter (1979).
Rompeu relações com Israel após a Guerra dos Seis Dias, em 1967 e alinhou-se com os árabes sendo no entanto rejeitado mais tarde pelo Egito de Anwar Sadat. A invasão da Tchecoslovaquia pelos aliados comunistas e o fim da experiência democrática da chamada Primavera de Praga, em 1968, foram decididos por ele, assim como a intervenção soviética no Afeganistão. Mas em sua política de détente com o Ocidente recebeu os presidentes franceses Charles De Gaulle e Georges Pompidou e visitou Alemanha e Estados Unidos.
Era um fumante inveterado e tinha hábitos "burgueses", como a posse de casas de campo e o uso de carros ocidentais sofisticados (Rolls-Royce, Mercedes, Maserati e Cadillac). Nos últimos anos de vida, muitas vezes sumiu de cena e foi dado como gravemente doente. O Governo jamais reconheceu qualquer enfermidade mas comenta-se que usava marcapasso e sofria de diversos males, inclusive câncer. Era casado com Viktoriya e tinha dois filhos, Galina e Yuri. A seu enterro na Praça Vermelha compareceram líderes de mais de 70 países, recebidos por seu sucessor, Yuri Andropov. Seguiram-se rápidas mudanças no poder: Andropov morreu em 1984 e foi sucedido por Konstantin Chernenko, e este, morto um ano depois, por Mikhail Gorbachov.
A morte que cai das nuvens
Desde a segunda metade do século passado se conhecia a expressão "chuva ácida", criada pelo químico inglês Robert Angus Smith, em 1872, quando estudava as principais causas de poluição na área industrial de Manchester. O fenômeno nunca deixou de ser uma preocupação para vários países, mas só em 1982, a partir de uma denúncia do Canadá, a opinião pública despertou para a sua gravidade.
O processo começa com a liberação de dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio na queima de combustíveis fósseis, em especial o carvão. Na atmosfera, os gases se transformam em ácido sulfúrico e ácido nítrico, altamente poluentes, que caem sobre a superfície terrestre em forma de gotículas ou de pó. Os canadenses na época acusavam as industrias e usinas termoeléctricas do nordeste americano de terem causado uma poluição que já dizimara todas as espécies de peixes em 147 lagos da região de Ontario e reduzira os cardumes de salmão da Nova Escócia.
Foi impossível convencer o presidente Ronald Reaganapesar de os EUA também sentirem os efeitos da chuva acidada necessidade de tomar providencias imediatas. Ele achava que uma legislação que protegesse o ambiente acabaria custando caro às empresas e aos contribuintes, e adotou a política de empurrar o problema com a barriga. Enquanto isso, o mundo inteiro passava a se importar mais com suas industrias poluidoras e com a chuva que afetava as águas, prejudicava florestas e plantações e corroía lentamente edifícios e monumentos. Quanto mais industrializado o país, mais grave o problema: além da América do Norte, os efeitos mais graves seriam sentidos na Europa e no Japão. No Brasil, foram registrados problemas em São Paulo e em Ouro Preto, onde obras de arte apresentaram corrosão.
Em meados da década de 80, calculou-se que cem milhões de toneladas de enxofre e 20 milhões de toneladas de nitrogênio eram lançadas todo ano na atmosferaíndice alarmante, responsável pelo aumento de doenças respiratórias e de pele em diversas regiões e apareceram as primeiras medidas oficiais. Dez países europeus formaram em 1984 o Clube dos 30%, que visava a reduzir a emissão de gases poluentes naquela proporção em dez anos; em 1985, outros 21 governos aderiram. Nos EUA, a Lei do Ar Limpo, de 1990, pretendia que fosse reduzida pela metade, em uma década, a emissão de dióxido de enxofre. Mas também em 1990, o Programa Nacional de Precipitação Acida dos EUA, depois de pesquisa de quase dez anos financiada pelo Governo, concluiu que a chuva ácida trazia menos prejuízo ambiental do que se acreditava. Muitos cientistas que participaram do programa, porém, não concordaram com essa posição. A discussão entrara pelo novo século.
A evolução, quem diria, evoluiu
O americano Stephen Jay Could desde pequenino sonhava ser bombeiro, policial ou gari, mas numa visita que fez com o pai ao Museu de História Natural de Nova York, quando tinha 5 anos, em 1946, decidiu-se: queria estudar fósseis. E conseguiu se tornar um dos mais brilhantes biólogos e paleontólogos do mundo. Pensador original, bem-humorado e de grande poder de comunicação, expressando-se em termos que até os não iniciados entendiam, ele já vinha publicando livros desde 1977 quando, em 1982, atraiu atenções em todo o mundo com "A galinha e seus dentes e outras reflexões sobre História Natural".
Publicado como parte das comemorações pelos cem anos da morte do naturalista inglês Charles Darwinde quem Gould e seguidor, popularizador e por vezes aperfeiçoador, sendo considerado um neodarwinistao livro reúne ensaios do cientista que tratam de aspectos aparentemente apenas curiosos da biologia animal, mas que também tem grande importância cientifica. Como, por exemplo, a explicação do título da obra. Afirma o livro de Gould que um ancestral da galinha teve dentes e que ela poderia voltar a tê-los se for estimulada a isso, porque os organismos guardam em si as diversas etapas de sua história biológica e a capacidade de reativá-las.
Para o professor de zoologia de Harvard, que se intitula um "profissional da evolução", Darwin se enganou num ponto, possivelmente levado pela tendência da época de sornente aceitar, em todos os campos de atividade, mudanças lentas e graduais. Elas são raras, diz Gould, o mais comum e que surja repentinamente uma nova espécie em uma população e, em seguida, essa nova espécie passe a variar pouco. É a teoria do "equilíbrio interrompido", formulada em 1972 com a colaboração de Niles Eldredge, paleontólogo do Museu de História Natural de Nova York. Na mesma linha de Darwin, porém, (Gould lembra que a evolução não tem preferência por nenhuma direção. Para ele, o conceito de "progresso" e desconhecido para a biologia.
Talvez o mais importante de tudo seja que em "A galinha e seus dentes" e vários de seus livros"O sorriso do flamingo", "O polegar do panda", "Darwin e os grandes enigmas da vida", "Dinossauro no palheiro', "Dedo mindinho e seus vizinhos", "A falsa medida do Homem', entre outrosStephen Jay Gould não hesite em defender que a vida não tem sentido. O bichohomem que não se considere um ser acabado, perfeito e naturalmente dotado para dominar o planeta, pois, segundo Gould, "somos apenas a ramificação sobrevivente de um arbusto outrora exuberante."
Brasil de luto no Estádio Sarriá
A seleção brasileira tinha tudo para se tornar tetra-campeã na Copa da Espanha, na qual jogou seu melhor futebol e passou facilmente pela primeira fase. Nela, vitórias de 2 x 1 sobre a URSS (gols de Sócrates e Éder), 4 x 1 sobre a Escócia (Zico, Oscar, Falcão e Éder) e 4 x 0 sobre a Nova Zelândia (Falcão, Serginho e dois de Zico) ampliaram ainda mais o favoritismo granjeado pela equipe do técnico Telê Santana na excepcional excursão a Europa em 1981.
Quando soube qual seria a chave da Itália na segunda fase, o técnico da Azurra, Enzo Bearzot, disse que seu time enfrentaria "os atuais e futuros campeões", referindo-se a Argentina (vencedora da Copa de 1978) e ao Brasil.
O Brasil fez sua melhor partida da Copa ao estrear na segunda fase, eliminando o violento time da Argentina com um futebol bonito e eficiente: 3 x 1, gols de Zico, Serginho e Júnior e bela atuação de Falcão. Vencer em seguida a Itália que derrotara a Argentina por 2 x 1 após uma campanha medíocre (três empates), parecia uma mera formalidade na inexorável conquista do título. Mas Paolo Rossi discordava e entrou em campo disposto a ser o carrasco do Brasil. Inspirado, marcou um gol logo aos cinco minutos. O Brasil empatou aos 12, gol de Sócrates. O segundo gol de Rossi, aos 25, fez o primeiro tempo terminar com vantagem italiana. Falcão empatou para o Brasil aos 23 minutos, com um belo chute de fora da área. O empate levaria a seleção a fase seguinte mas ela continuou se lançando ao ataque e, aos 30, Rossi fez o terceiro e ultimo gol da partida: Itália 3 x 2 Brasil. Era a eliminação.
Na semifinal, Rossi fez os dois gols que mataram a Polônia e na final abriu o placar contra a Alemanha, que eliminara a França nos pênaltis. Tardelli e Graziani completaram os 3 x 1 que deram a Itália o tri-campeonato, até então uma exclusividade do Brasil.
O futebol de Camarões e Argélia surpreendeu o mundo. Os dois países tiveram a entrada na Copa facilitada pelo aumento do número de seleções participantes para 24, sonho que o presidente da FIFA João Havelange acalentava desde 1978. Como a Itália, Camarões empatou os três jogos iniciaisa Itália só levou a vaga por ter feito um gol a mais. A Argélia derrotou Chile e Alemanha, mas foi eliminada por um vergonhoso jogo de comadres entre Alemanha e Áustria: os alemães marcaram 1 x O e deixaram de atacar, trocando apenas passes laterais. O resultado classificou os dois.
O Estádio Sarria, de triste memória para os brasileiros, sequer existe mais: foi demolido em 1997, depois que o clube Espanhol vendeu o terreno para pagar dívidas.
O trono do tênis tomado à força
Depois do complicado ano de 1981, em que assumiu ser lésbica e enfrentou o moralismo da opinião publica americana a Tcheca Martina Navratilova iniciou, em 1982, um longo reinado no tênis. Até 1987, seriam seis títulos consecutivos no tradicional torneio de Wimbledon e outros oito no Grand Slam, que reúne as competições mais importantes do tênis: Aberto dos EUA, Aberto da Austrália, Roland Garros (França) e Wimbledon (Inglaterra).
Martina tinha enfim o que comemorar depois da amargura de 1979, quando perdeu a liderança no ranking mundial. Ainda mais porque em 1981, apesar dos problemas pessoais, pôde obter a cidadania americana. A tenista morava nos Estados Unidos desde 1975, quando abandonou seu país natal para escapar da burocracia comunista, que Ihe tomava boa parte dos valiosos prêmios que ganhava.
Nascida em 18 de outubro de 1956, numa pequena cidade perto de Praga, ela treinava jogando contra seu padrasto nas quadras de terra de um clube da prefeitura. Começou a disputar torneios no exterior nos anos 70, mas enfrentava o problema dos prêmios e também da falta de liberdade. Martina dizia nunca Ter esquecido da invasão de seu país por tanques soviéticos em 1968, com soldados fuzilando suspeitos na rua. Quando disputava o Aberto dos EUA de 1975, decidiu não regressar mais. Mesmo sem um programa de treinamento definido a tenista foi melhorando e travou grandes duelos com sua principal adversária, a americana Chris Evert. Com 1.72m e 65 quilos. Martina inaugurou um estilo vigoroso, que incluía muita musculação para garantir sua força física. Nos anos 80, uma bola golpeada por sua raquete podia atingir 180km/h.
Ela chegou ao topo do ranking em 1978, vencendo Wimbledon neste ano e no seguinte. A partir de 1982, veio a fase do ápice. Até deixar as quadras, em 1994, foram nove vitórias em Wimbledon, quatro no Aberto dos EUA, três no Aberto da Austrália e duas em Roland Garros. Para chegar aos US$ 20 milhões acumulados venceu 167 títulos e obteve 1.483 vitórias no circuito profissional. Ativa defensora dos direitos dos gays, ela respondeu a pergunta agressiva de um repórter, em 1994, com o mesmo estilo que exibia nas quadras. "Martina você continua lésbica?" "Sim, enquanto a alternativa for gente como você..."
Um ano de luto para os pianos
O início e o fim de 1982 foram tristes para o mundo da música. Em 17 de fevereiro de 1982 desaparecia a genialidade de Thelonious Sphere Monk, autor de centenas de composições e arranjos, um dos criadores do jazz moderno, o pianista mais original dos anos 40 aos 60. O mestre do piano clássico Arthur Rubinstein morreu no dia 20 de dezembro de 1982, em Genebra, aos 95 anos, já praticamente cego e com a saúde bastante debilitada.
Monk era o mais misterioso dos músicos de seu tempo. O mistério vem das origens, pois nem sua data de nascimento nem o nome de batismo podem ser considerados verdadeiros. Nasceu na Carolina do Norte, de pai desconhecido, num 10 de outubro, mas em alguns documentos aparece o ano de 1917 e em outros, 1920. Sabe-se que partiu criança para Nova York com a mãe e que no início dos anos 30, sem ter passado por uma escola, tocava piano em festas e igrejas do Harlem. No início da década seguinte, fez parte do grupo de músicos, quase todos na faixa dos 20 anos, que se reuniam no Minton's, clube em cujas jam sessions de segunda-feira nasceu o movimento de jazz de vanguarda batizado como bebop.
Thelonious ficou conhecido como autor de "Epistrophy" (1941), um dos primeiros temas do novo som, e de "Round midnight", popularizada por Miles Davis e por Dexter Gordon. Somente em 1947 sua música passou a ter registros a altura no selo Blue Note e, mais tarde, no Prestige. Em seguida enveredaria por outra revolução, a do cool jazz. Sempre se renovando, Thelonious Monk foi um dos músicos mais influentes do jazz até mergulhar em depressão nos anos 70.
Nascido em 28 de janeiro de 1887, o polonês Arthur Rubinstein já aprendia piano aos 3 anos de idade. Com 4, já se apresentava em pequenos concertos e, aos 8, foi estudar em Berlim com o violinista Joseph Joachim, que tinha conhecido Brahms e Schumann. Daí para a fama e o reconhecimento público foi um passo. O "virtuose feliz", conforme o definiu o escritor alemão Thomas Mann, tornou-se o maior pianista romântico de seu tempo e o mais refinado intérprete de Chopin do século XX. A dedicação pela música não impediu que Arthur Rubinstein se tornasse um notório bon vivant. O músico teve uma vida intensa, incluindo muitas mulheres, concertos no mundo inteiro e amizades famosas, entre elas Pablo Picasso, Ernest Hemingway e Albert Einstein, que nas horas vagas tocava violino com ele. Naturalizou-se americano em 1946, e ao morrer deixou mais de 200 gravações.
Fonte: O Globo - Texto integral