Triunfos, desafios e profundos desapontamentos: 1978/1979

Até a década de 1980, o ápice dos espetáculos produzidos de Roberto Carlos se manifestou entre 1978 e 1979: o "Show do Palhaço" com estreia no Canecão. No entanto, somente Mièle e Bôscoli, na dupla função de produtores e amigos, compreendiam as convulsões da alma de Roberto Carlos durante os ensaios -- um cerco implacável da imprensa, exigindo dele uma resposta então impossível sobre sua separação de Nice.

Na iminência da estreia, que seria postergada por uma semana, Roberto testou seis variações de perucas e maquiagens. Ele cogitou desistir e, num instante de profunda reflexão, solicitou que lhe fosse trazida a peruca desgastada, aquela com a qual tinha ensaiado até então.

Fixando o olhar num ponto indefinido, contemplou sua imagem no espelho e decidiu: "Com esta eu faço o show". Naquele instante, Roberto delegou a Mièle e Bôscoli a integral responsabilidade pela iniciativa. Eles aceitaram prontamente.

A Roberto restava uma completa serenidade para aquela performance. E dessa certeza a dupla estava munida. Houve tempo suficiente para ensaiar as marcações do texto, todas executadas com uma soltura notável por Roberto Carlos, o Rei em cena. Em 29 de novembro de 1978, dia da estreia, entre lágrimas convulsas, como uma criança, lançou-se nos braços de Dona Laura e desabafou: "A carga era pesada demais."

E, voltando-se para Ronaldo Bôscoli com os olhos marejados, exclamou: "Bicho, parece que o mundo vai desabar sobre mim..." Momentos depois, completamente refeito, viveu períodos de grande exaltação. Duas semanas após a estreia, discutia-se os riscos que a sua caracterização de palhaço poderia implicar para sua trajetória.

Contudo, ele afirmou: "Agora estou completamente seguro. Não ocorreu qualquer reação negativa." Mais uma vez, o tino de Mièle e Bôscoli se mostrava acertado. Superado o desafio do show, Mièle e Bôscoli revelaram que não foi fácil para Roberto -- completamente justificado -- aceitar o papel de palhaço em um período tão delicado de sua vida pessoal.

Para sermos mais precisos, sempre foi um desafio convencer Roberto Carlos a endossar algo com o qual ele não concordasse de imediato. Se a ideia o encantava imediatamente, ele certamente a utilizaria. Porém, quando ele começava a hesitar, dizendo: "Bicho, vamos ver, será que vai dar certo?", era mais prudente desistir; ele tendia a procrastinar a decisão e, geralmente, somente às vésperas anunciava a sua recusa.

Ele sempre teve uma percepção clara de seus desejos, e isso tem sido a pedra angular de sua carreira. Mas, entre todas as proposições de Mièle e Bôscoli, uma que eles supunham que Roberto nunca aceitaria era justamente cantar caracterizado de palhaço.

Convencê-lo foi árduo, mas ele finalmente aceitou à proposta, e isso se tornou um marco espetacular em sua carreira, alcançando destaque nas capas das principais revistas do país. Por outro lado, representou um grande risco para a dupla Mièle e Bôscoli e para o próprio Roberto, a tal ponto que Mièle brincou com Ronaldo Bôscoli que, caso fracassassem, teriam que se mudar para La Paz ou outra cidade da América do Sul.

O prestígio de Roberto Carlos -- ele estava plenamente ciente disso -- despertava o desconforto de muitas personalidades influentes, e elas detinham o controle da máquina de informação. Por inúmeros motivos, Roberto aspirava realizar o melhor show de sua vida, e assim o fez. Não tanto pelo impacto de ostentar uma peruca de palhaço, mas pela maturidade que transparecia naquele show.

Roberto estava tão consciente de suas ações que, com notável sutileza, apreciava com afeto sua própria nostalgia. Quando interpretava sucessos do passado, fazia-o com uma perspicácia crítica, revitalizando assim o que parecia desgastado e esquecido. Naquela época, segundo Daniel Filho, que havia regressado dos Estados Unidos e assistido a ambos, apenas Sinatra possuía um espetáculo produzido com a mesma excelência de Roberto Carlos.

Ainda naqueles dias, até a finalização de seu desquite, Roberto visitava seus filhos semanalmente. Mas não demoraria muito, para que a imprensa começasse a especular sobre o "Roberto Carlos solteiro", e muitas jovens seriam apontadas como futuras "senhoras Braga". Isso o incomodava e irritava profundamente. Não tanto pessoalmente, já que estava acostumado a ser foco de factoides, mas pelo envolvimento das pessoas próximas e queridas.

De fato, Roberto nunca tolerou que aqueles que lhe eram caros fossem alvo de exposição exagerada, inverdades, injustiças e críticas severas, e foi nesta delicadeza que muitas biografias sobre Roberto falharam. Durante 1979, Roberto apresentou a Augusto César Vanucci e Ronaldo Bôscoli composições que mais tarde seriam divulgadas em seu disco anual e incluídas em seu Especial de televisão.

Porém, ao iniciar os acordes de uma música dedicada a seu pai, sentiu-se emocionado, pediu licença e retirou-se para outro ambiente. Restaurado, retornou e revelou: "Essa eu compus para meu pai, seu Robertino." A apresentação foi tocante. Imediatamente, Vanucci e Bôscoli visualizaram um cenário envolvendo três gerações -- Robertinho, Roberto e Segundinho -- passeando pelos campos, mas Roberto interrompeu seus esboços criativos, comentando: "Bicho, meu pai está bastante debilitado, com 83 anos e saúde frágil. Talvez, com um grande esforço, consigamos gravar com ele no hospital.".

Mais tarde, Roberto voltaria a se emocionar profundamente. A presença de seus filhos era essencial para ele. Dudu havia desenhado o iate Lady Laura e entregou sua criação a Roberto, que, comovido, a posicionou em lugar de destaque no camarim. A canção "Emoções" ainda não tinha sido composta, mas aqueles momentos eram repletos de lágrimas e sorrisos, como tantos outros em sua vida.

Paralelamente, Roberto vibrava ao receber notícias de que seu álbum anterior começava a ultrapassar todos os seus recordes de vendas pessoais. Dois milhões de cópias. Mas alguém o lembrava que, devido à pirataria fonográfica, ele era o mais prejudicado, com pelo menos um milhão de discos prensados e vendidos sem o aval de sua gravadora, a CBS. Isso sem mencionar as fitas K7 piratas, que chegavam a representar cerca de 30% das vendas oficiais.

Assim, na verdade, o recorde de Roberto era ainda mais impressionante e, por consequência, a contagem oficial de vendas segue até os dias atuais extremamente subestimada. Os anos de 1978 e 1979 foram particularmente difíceis de avaliar.

Marcados por triunfos, desafios e profundos desapontamentos. Para 1980, Roberto planejava muitas atividades. Seu apartamento na Urca, comprado na planta, seria finalizado e, além das turnês habituais, ele pretendia, no final do ano, replicar no Anhembi o mesmo espetáculo que realizara no Rio, por achar injusto que o público de São Paulo pudesse apreciar aquele que considerava seu melhor show até então.

E trabalhou mais arduamente. Sua agenda, administrada por Marcos Lázaro, seu empresário, estava mais repleta do que nunca. Questionado sobre o motivo de tanto empenho, ele respondia: "É que no palco eu encontro uma estranha paz. Além disso, respondo às expectativas de meu público, composto por diversas camadas sociais e econômicas." Depois de um desses compromissos agendados, um show no Guarujá, litoral paulista, Roberto Carlos, descansava a bordo do iate Lady Laura II, quando foi surpreendido pelo rádio com a notícia da partida de seu pai, em 27 de janeiro de 1980.


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